quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Gimo Remane Mendes

Músico moçambicano, nascido em Mossuril na província da Nampula, Gimo Remane Mendes, foi um dos primeiros a compor e cantar em macua ( uma das muitas línguas presentes em Moçambique) Morando atualmente na Dinamarca, segue enquanto músico premiado e cidadão moçambicano a apostar na capacidade de êxito do povo moçambicano. Destacamos seu ultimo projeto junto a mulheres moçambicanas dos mais diferentes grupos culturais, onde se intenta valorar e gerar meios para que atividades rentáveis sejam desenvolvidas por estas mulheres.

Para tratar um pouco mais deste assunto, trazemos uma parte da entrevista de Gimo Remane, concedida ao site Diário Liberdade:


Notícias Lusófonas (NL): Gimo Remane Mendes, apesar da distância tem-se mostrado preocupado e contribuindo para a preservação da cultura moçambicana, com destaque para a musica. Fale-nos do projecto que tem vindo a desenvolver com as mulheres na Ilha de Moçambique.
Gimo Remane Mendes (GRM) - O projecto que tenho vindo a desenvolver com as mulheres da Ilha de Moçambique surge como um desenvolvimento natural daquilo que sempre fiz em prol da nossa cultura. Desde o primeiro minuto que decidi trabalhar como músico, escolhi interpretar e divulgar os ritmos tradicionais da província de Nampula em geral e da Ilha de Moçambique em particular. Fi-lo porque estava convencido que eram ritmos com uma riqueza única e incomparável. Com a minha guitarra, juntei-me aos grupos de Tufo da Ilha e foi desse trabalhando com os grupos e com as mulheres da Ilha que tudo começou. Mais tarde e com mais outros colegas de Nampula viríamos a fundar o grupo Eyuphuro que, como sabem, levou os ritmos da Ilha aos quatro cantos do mundo (mas essa é outra conversa). Estando actualmente a residir na Dinamarca, continuo a divulgar a nossa cultura neste canto da Europa e continuo ligado à Moçambique através de vários projectos. Este é mais um. Aproveitando as oportunidades que me são oferecidas e combinando com a boa reputação de que cá gozo, achei que este era o momento oportuno de retribuir algo às mulheres da Ilha. Criamos a Associação Cultural das Mulheres da Ilha de Moçambique (ACUMIM).
NL – Qual é a prioridade no trabalho que tem vindo a desenvolver?
GRM - A minha ideia inicial era de criar uma cooperativa cultural gerida por elas, uma cooperativa que ajudasse às mulheres economicamente ao mesmo tempo que trabalhariam e conservariam as danças e tradições da Ilha. A minha ideia foi bem acolhida em vários quadrantes e numa conversa com Sua Excia. Senhor Embaixador da Dinamarca em Moçambique, Johnny Flentø, trocamos ideias e o projecto cresceu. A prioridade neste projecto é a de trazer a mulher ao centro das atenções para desempenhar o papel que ela muito bem sabe desempenhar na família. Como sabe, em muitas comunidades rurais, as mulheres são as responsáveis pela família; são elas que tomam conta da casa, dos filhos e do marido e até da comunidade e o homem só decide.
NL – Para além da música, o grupo das mulheres na Ilha de Moçambique desenvolve-se outras actividades para a sua valorização, ou seja, auto-desenvolvimento socio-económico. De que se trata de concreto?
GRM – Trata-se de criar condições para que haja uma valorização cívica, económica e também política das mulheres. Na Ilha e em muitos cantos de Moçambique, as mulheres são as gestoras da família, mas no dia-a-dia elas dependem do dinheiro dos seus maridos para todas as despesas. Daí o meu envolvimento nesta causa porque acredito que criando condições em que elas possam desenvolver pequenas actividades lucrativas, podem melhorar significativamente a vida da sua família e até da sua comunidade; terão melhores condições para comprar mais alimentos, mais medicamentos, mais material escolar e vencer a pobreza absoluta, por um lado. Por outro lado, isto fará com que a mulher tenha uma participação cada vez mais activa nas decisões da comunidade e uma maior participação no desenvolvimento da democracia em Moçambique. Este projecto é a "cana de pesca" que a mulher da Ilha necessita para pescar.
NL – E para terminar, que mais gostaria de retratar sobre o projecto?
GRM – Este é um projecto de mulheres, gerido por mulheres e para o bem das mulheres. Espero que este seja um projecto de referência e que sirva de fonte de inspiração às mulheres moçambicanas. Sei que estão a ser desenvolvidos outros projectos de micro-créditos onde as mulheres são o núcleo privilegiado, mas pela forma como este foi desenhado, o projecto das mulheres da Ilha tem a particularidade de trabalhar e potenciar a mulher, a música e a cultura da Ilha de Moçambique ao mesmo tempo que irá, de uma forma directa, incentiva-las a participar no combate à pobreza absoluta e no desenvolvimento da democracia. Espero que os órgãos da comunicação social continuem a interessar-se pelo projecto da ACUMIM e que ajudem a divulgá-lo de modo a chegar às mulheres de Moçambique todo. A formação que elas estão a receber hoje tem como o fim último o sucesso da mulher moçambicana no geral. Outros actores tais como: a Câmara Municipal, a Administração do Distrito e o Governo da Província devem continuar a abraçar este projecto que só assim será um sucesso de todos.




Entrevista retirada do site: Diário Liberdade: http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=8657:musico-mocambicano-aposta-na-valorizacao-das-mulheres&catid=73:mulher-e-lgbt&Itemid=85

Imagem retirada do site: http://wwwclube70.blogspot.com/2008_08_01_archive.html

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